Existe, para todo o ser humano, uma hora do dia extremamente penosa, a hora do despertar. De olhos semi-serrados a passos atabalhoados pela casa, apoiamos as mãos nas paredes até que se recupere totalmente o equilíbrio vertical, a luz fere-nos os olhos, o chão frio, os pés descalços, e o espelho, esse fere-nos o ego, que parecendo mortos-vivos, poucas semelhanças temos com a pessoa, que, horas antes escovara os dentes no mesmo local. O sabor que se prende na boca, é algo de inexplicável, num misto de charutos secos de oferta de casamento e papel de jornal reciclado. o raciocínio toldado pela saudade da almofada, impede-nos de realizar as mais simples tarefas, desde abrir um pacote de leite sem derramar a colocar açúcar no café sem desperdiçar. Os bocejos constantes dificultam de sobremaneira a coordenação motora e a lentidão a que tudo isto se passa, raramente nos favorece a pontualidade. Tudo isto permite-me concluir que o ser humano não foi feito para cumprir horários. Estes foram pré-estabelecidos por uma sociedade doentia e todos concordamos, porque já assim o era quando nascemos. Ir de encontro às necessidades fisiológicas primárias de cada um é uma afronta à evolução e um insulto à Declaração Universal dos Direitos do Homem...
terça-feira, 20 de maio de 2008
"rise and shine" .. o cara***...
sexta-feira, 16 de maio de 2008
terça-feira, 13 de maio de 2008
Ritinha e o pedestal...
Queima das Fitas, dia de cortejo.
Aglomerados de pais atropelam-se nos passeios adjacentes à Praça da Republica esperando a chegada dos filhos que, nos seus carros de curso, ostentam orgulhosamente a celebração do seu penúltimo ano de estudos.
Ritinha frequenta o curso de Psicologia, não reprovara um único ano e nunca terá deixado sequer uma disciplina para "trás", é como se costuma dizer, um exemplo para todos e o orgulho da familia.
O senhor e a senhora Gulhifontes, aguardam ansiosamente a chegada do seu rebento para a congratularem pelo excelente trabalho. Entre a barulheira dos estudantes eufóricos com a excitação da parada (e da bebida), la aparece Ritinha, descalça, meias completamente rasgadas, saia descomposta, e os três primeiros botões da camisa desabotoados, deixando ver o soutien branco em contraste com a sua pele morena. Na cabeça trazia a gravata o grelo em trança e uns óculos de sol cor-de-rosa que depressa tirou e colocou no nariz ao avistar os pais. De braços abertos e aos zigue-zagues esquartejava a língua portuguesa a torto e a direito, dando a impressão de estar a falar um dialecto exclusivamente seu.
Os pais perplexos, não compreendiam. O que se passaria com a sua querida filha, tão "atinadinha" tao "certinha e direitinha", como seria possivel encontrar-se naquele estado lastimável, o que diriam os avós se soubessem, e as pessoas meu Deus, se pessoas conhecidas a vissem. Em negação evidente, perguntam numa aflição, mais fingida que outra coisa, quem lhe havia feito mal. Rita olha para os dois (ou pelo menos parece olhar, não se percebe bem à custa dos ólculos de sol extremamente escuros e sujos de pó e cerveja) e num esgar entramelado arremessa um punhado de palavras das quais apenas se percebeu qualquer coisa como " a queima... vida... alcool... feliz..."
Aglomerados de pais atropelam-se nos passeios adjacentes à Praça da Republica esperando a chegada dos filhos que, nos seus carros de curso, ostentam orgulhosamente a celebração do seu penúltimo ano de estudos.
Ritinha frequenta o curso de Psicologia, não reprovara um único ano e nunca terá deixado sequer uma disciplina para "trás", é como se costuma dizer, um exemplo para todos e o orgulho da familia.
O senhor e a senhora Gulhifontes, aguardam ansiosamente a chegada do seu rebento para a congratularem pelo excelente trabalho. Entre a barulheira dos estudantes eufóricos com a excitação da parada (e da bebida), la aparece Ritinha, descalça, meias completamente rasgadas, saia descomposta, e os três primeiros botões da camisa desabotoados, deixando ver o soutien branco em contraste com a sua pele morena. Na cabeça trazia a gravata o grelo em trança e uns óculos de sol cor-de-rosa que depressa tirou e colocou no nariz ao avistar os pais. De braços abertos e aos zigue-zagues esquartejava a língua portuguesa a torto e a direito, dando a impressão de estar a falar um dialecto exclusivamente seu.
Os pais perplexos, não compreendiam. O que se passaria com a sua querida filha, tão "atinadinha" tao "certinha e direitinha", como seria possivel encontrar-se naquele estado lastimável, o que diriam os avós se soubessem, e as pessoas meu Deus, se pessoas conhecidas a vissem. Em negação evidente, perguntam numa aflição, mais fingida que outra coisa, quem lhe havia feito mal. Rita olha para os dois (ou pelo menos parece olhar, não se percebe bem à custa dos ólculos de sol extremamente escuros e sujos de pó e cerveja) e num esgar entramelado arremessa um punhado de palavras das quais apenas se percebeu qualquer coisa como " a queima... vida... alcool... feliz..."
sábado, 10 de maio de 2008
Vários...
Pequenos duendes tentam abrir uma lata de sardinhas com uma espiga de milho, a fome aperta-lhes nos tornozelos, e sem se darem conta, ouvem a musica que um mendigo toca através de um bolso de umas calças de ganga rasgadas. Contam-se pelos dedos das mãos as historias que um velho embala, sentado na margem de um rio lamacento, vezes e vezes sem conta, com a noção de que a redundância latente não o perturba. A memória à muito se foi, resta-lhe um fio condutor, que de tão gasto e tão vivido, mais tarde ou mais cedo, partir-se-a. Fadas gigantescas tecem novelos de rimas traduzidas por um cravo vadio, nas enseadas do Tejo. Verdadeiros alfarrabistas tentam impingir as suas bodegas a qualquer alma que passe , inquisidora, nas ruas de uma cidade vazia. Pétrus, alcança a liberdade através de uma navalha enferrujada junto ao peito, suspirando incertezas feitas de coisas que há muito esqueceu. Feras famintas atropelam-se nas palpitações de um coração assustado. Na espera de um movimento brusco para o ataque, premeditado. E são assim as vontades, suspensas por fios invisíveis, balanceando-se de um querer para outro sem que se apercebam de que no fim das contas, larvas os devorarão...
quinta-feira, 1 de maio de 2008
Inquietações...
Sou torto pelas ruas direitas onde caminho. Não me evito, limito-e a ser tolerável comigo próprio.
O que se perde no fim, é o que nunca se teve, ou pior, o que nos tiram por afinidade...
Se me sentar num pensamento, embriago-me daquilo em que me sinto coberto. Nada mais é preciso. A necessidade por si só, é um sentimento desnecessário.
A lucidez atraiçoa. Que desapareça! Um dilacerar desassossegado de ideias é um comboio em linhas perpendiculares. A distancia que percorro é tão grande quanto o medo de alcançar o fim.
Se fujo, não me encontro. Se me encontro perco-me de mim.
Inquieto, sou sombra. Ser volátil é ter em si universos de estrelas em decadência.
Percorrer um trajecto não é mais que um passeio pela existência.
Sinto a rugosa angustia de respirar angustiado. Nela, pairo um pouco acima do que seria suposto pensar.
Não me vejo, pois sou foco insípido de transparência embaciada. Nisto, faço o que bem me diz o vento.
A manha raia de sol nos recantos da minha alma nocturna. Fecho os olhos e adormeço entre um clarão e outro.
Se fosse pintor, pintaria o preto de branco, e o tudo, de coisa alguma. Gostaria de tornar as coisas inversamente desiguais.
Se um passo é um começo, não passo de um começo à beira-mar, dividindo-me em metades que não se conjugam. Um passo de cada vez torna a vida enfadonha.
Deixo-me agir enquanto o pensamento dorme. Enquanto divago, destruo a acção e morre a quietude de um sossego.
O tempo é a dimensão do agir.
Se sinto, é-me vago. Se sou, não existo. De tudo o que possa fazer, deixo-me ir.
Balanço entre um e outro sem grande inquietação...
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