domingo, 12 de abril de 2009

Passeio Perspectiva


Entranho-me na cidade, tomo-a como minha. Entre os odores da rua sinto a certeza fria que nao tinha. Dispeço-me num voziferar grosseiro que se intromete entre mim e a beleza. Um pedido de atenção, fugido à incerteza. Tenhamos dó de nós e de tudo. Que a tórrida razão se arrefeça na vontade que a consome em se privar da liberdade. Enquanto todos os caminhos dao a um corpo curvilineo que nos cega, abrimos os olhos e o que nos resta nao passa de uma bodega. Sentimo-nos taciturnos. Sentamo-nos como nos sentimos. Tacteando às escuras o véu que nos encobre, descobrimos as palavras na mao que nos engole. Fazem-se juras eternas e certidoes de obito ao sonho, como a um alimento estragado que se repele em convulsoes num pesadelo medonho. Liberto-me destas correntes, sinto a tinta que escorre, lentamente, entredentes. Cuspo no chão e sou o borrão negro em que protesto impertinente a decadencia.

3 comentários:

Anónimo disse...

Esse corpo curvilíneo que te cega e que insiste em abafar o teu grito sedento de liberdade. Que do alto e de peito inchado te exige palavras bonitas e eternas, quebras de rotina e rosas sem espinhos... Para quê ser um estranho na tua própria cidade?! O desafio talvez seja transformar o borrão negro colado ao chão num qualquer ser auto-suficiente. Sem troca de línguas ou certidões de óbito. Não serás tu senhor de ti mesmo?! Talvez sejas masoquista. Não! Espera!... és um homem. Humano, talvez. Homem o suficiente para ter medo dessa sede de liberdade. Homem o suficiente para perceber que essa sede de ti mesmo se irá transformar em Solidão. Homem o suficiente para temer essa solidão. Afinal a culpa não é dela! É da outra...

Parabéns! és "normal":)

Sofia

Kispo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Kispo disse...

Não sei se não estarás a depreender demasiado, bem, em parte penso que sim. de qualquer maneira..

Parabéns, gostei! :)