Oiço o bater de algo fortuito nas janelas do quarto, como o rufar de uma bateria de tambores, oca e desincronizada. Não me apercebo de inicio do que se trata, o cérebro ainda não se encontra completamente funcional ao acordar.
De repente, como se um maestro assim o ordenasse, da-se um silencio repentino e abrupto, completamente desenquadrado com o que se passara segundos antes. Raios de sol invadem a escrivaninha, as paredes, o tecto, moldando ténues sombras de tudo o que se intromete entre a fonte de luz e a tela na qual as suas formas aparecem torneadas. Os passáros la fora retomam o seu canto, supostamente alegre, e tudo se encontra em sintonia perfeita, num equilíbrio de fazer inveja à mais calibrada das balanças.
Levanto-me cambaleante e ensonado e dirijo-me à cozinha, iluminada pelo sol da manhã, na busca de saciar a sede matinal que, com assaz frequência, se apodera de mim. No mesmo instante em que abro a torneira, o céu escurece e é como se tivessem aberto também uma, de calibre muito superior, la fora. Repentinamente, tudo escurece, e sou transportado de volta ao momento imediatamente posterior ao meu despertar. O rufar de tambores sem qualquer sincronia e as janelas da cozinha turvas com a agua que as banha. Pergunto-me para onde terá ido o Sol em tão pouco tempo, escassos minutos se passaram desde o ultimo chilrear de um pássaro qualquer.
Paro de me questionar, de nada serve. quem sou eu para ousar indagar os caprichos do tempo, dos dias ou a forma como a aparente aleatoriedade das coisas se apresenta perante mim. Deixo-me de disso e sigo a minha vida, ignorando as indeléveis intermitências do Sol.